Justiça proíbe o abate de jumentos na Bahia após casos de maus-tratos em Itapetinga e Itororó.
A
Bahia foi proibida pela Justiça Federal de abater jumentos, em decisão liminar
(provisória) concedida nesta sexta-feira (30) pela juíza Arali Maciel Duarte,
da 1ª Vara Federal, em Salvador.
A
proibição ocorre após casos de maus-tratos registrados pelo Governo da Bahia
(Polícia Civil e Agência de Defesa Agropecuária da Bahia – Adab), com centenas
de animais mortos de fome e sede em Itapetinga e Itororó, no Sudoeste baiano.
A
decisão judicial é em resposta a ação civil pública contra a União e o Estado
da Bahia, de autoria da União Defensora dos Animais – Bicho Feliz, da Rede de
Mobilização pela Causa Animal, do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal,
da SOS Animais de Rua e da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos.
A
ação relata casos ocorridos em setembro em Itapetinga, quando 300 animais
morreram e 750 estavam num confinamento ilegal, sem ter o que comer e beber, e
no final de outubro em Itororó, quando nove animais mortos foram deixados numa
estrada.
Em
Itapetinga está um dos três frigoríficos do estado autorizados pelo Ministério
da Agricultura a abater jumentos – os outros ficam em Amargosa e Simões Filho.
A Bahia é o único estado do Brasil com frigoríficos autorizados a realizar o
abate de jumentos.
Segundo
o Governo da Bahia, estão sendo abatidos no estado entre 300 a 400 jumentos por
semana. Pela decisão, publicada neste sábado (1º) no Diário Eletrônico da
Justiça, os abates devem ser paralisados em 10 dias, a contar da notificação,
que deve ocorrer na segunda-feira (3).
A
Bahia, segundo a Adab, tem plantel de 96 mil jumentos, mas estima-se que a
quantidade de animais, incluindo os soltos, chegue a 200 mil. No Nordeste, a
projeção é de 800 mil jumentos.
Os
animais são capturados em estradas do Nordeste ou comprados por até R$ 30 e
levados para o abate. Em seguida, a carne, a pele o couro são exportados para a
China depois de passarem por Hong Kong e Vietnã.
Na
China se extrai da pele e couro do animal uma substância usada para fazer o
ejiao, remédio que promete combater o envelhecimento, aumentar a libido nas
mulheres e reduzir doenças do órgão reprodutor feminino.
Dados
do Ministério da Agricultura apontam que a Bahia exportou para o Vietnã 1,28
mil toneladas de carne e couro de “cavalos, asininos e muares”, a US$ 2,5
milhões (R$ 9,7 milhões), neste ano. Para Hong Kong, foram 24,4 toneladas, por
US$ 36.814 (R$ 142.282,43).
Os
abates ocorrem em Itapetinga desde agosto no Frigorífico Sudoeste, que possui
contrato com a empresa chinesa Cuifeng Lin para realizar o serviço. Em agosto,
a empresa foi multada em mais de R$ 30 mil por causa dos maus-tratos.
Outra
irregularidade encontrada é que os jumentos estão sendo transportados sem a
GTA, guia de trânsito que atesta a origem do animal e serve como comprovante
sanitário. O confinamento de jumentos em Itapetinga foi proibido pela Adab em
novembro.
Deslocamento
irregular
Na
decisão da Justiça Federal, a juíza Arali Maciel Duarte escreve que “o
deslocamento de jumentos de determinados estados para os frigoríficos da Bahia
totaliza mais de 12 horas de viagem, contrariando a Instrução Normativa Mapa nº
56, de 6 de novembro de 2008, e a Resolução Contran nº 675, de 21 de junho de
2017 quanto a legislação de Transporte e de bem-estar animal”.
“É
de responsabilidade do Departamento de Saúde Animal (DSA) e da Secretaria de
Defesa Agropecuária (SDA) regulamentar e fiscalizar o transporte dos equídeos
destinados ao abate”, observa a magistrada.
Arali
Maciel Duarte destacou ainda que “o Estado da Bahia insere-se no rol de estados
com registros de graves zoonoses nos rebanhos de equino e bovino e, vez por
outra, com focos de epidemia, como aconteceu há pouco tempo conforme certidão
obtida junto ao Ministério da Agricultura”.
Na
continuação, a juíza diz que isso ocorre “justamente por conta desse histórico
de falta de fiscalização com comprometimento do rebanho, afetando, com isso, a
imagem de nosso povo, a qualidade do nosso rebanho, em inegável – e legítima –
desvalorização de nossa identidade e economia.”
“Ainda
que não houvesse o imperativo ético que impõe a proibição do abate de jumentos,
de modo a evitar a disseminação de doenças e risco à saúde pública, devem ser
cumpridas as medidas, normativamente previstas (leis e atos administrativos) de
cunho sanitário”, afirma a magistrada.
O
CORREIO não conseguiu contato com o Ministério da Agricultura e com a
Secretaria de Agricultura da Bahia para comentar o assunto.
Nos
frigoríficos Cabra Forte (Simões Filho) e Frinordeste (Amargosa) ninguém
atendeu as chamadas. Em Itapetinga, o Frigorífico Sudoeste destacou que
trabalha dentro da legalidade e que espera que o Estado e a União recorram da
decisão.
“É
uma liminar que pode ser cassada ainda. Acredito que o Estado não vai querer
que seja colocada 3 mil pessoas no desemprego. O governador [Rui Costa] tem que
pensar o que vai fazer”, disse o diretor do Frigorífico Sudoeste Eder Resende.
Coordenadora
da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, Gislane Brandão declarou que a
decisão é “mais um passo de sucesso na nossa luta”, e que “a autorização do
abate de jumentos pelos governos Federal e Estadual é inaceitável”. (Correio
24hs)
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