Padre que morreu com Covid-19 planejava missa para queimar máscaras no fim da pandemia: 'Mostrar que vencemos'
Uma missa para queimar
máscaras e celebrar o fim da pandemia. Era essa a ideia do padre Francisco
Deragil de Souza, de Mogi das Cruzes, morto na última terça-feira (8), aos 53
anos, vítima de uma pneumonia e de complicações da Covid-19.
Infelizmente, ele não verá
o fim do coronavírus ser motivo de celebração. Na quarta (9), uma missa em
despedida a Francisco reuniu dezenas de fiéis na Paróquia Nossa Senhora
Aparecida e São Roque, no distrito de Brás Cubas, onde era pároco. Sem a
possibilidade de velório, o carro da funerária passou pela igreja e fiéis
emocionado se despediram com rosas vermelhas e aplausos (assista acima).
O enterro foi no cemitério
Parque das Oliveiras, na Vila Oliveira, em Mogi.
“Ele falou assim: gente,
quando isso passar, vamos cada um trazer a sua máscara e nós vamos fazer uma
missa especial para queimar todas, para mostrar que nós vencemos a Covid-19.
Infelizmente ele não conseguiu”, lembra José Luiz Felipe Santiago, que é
frequentador e faz parte do grupo musical da paróquia.
O religioso foi internado
há cerca de 15 dias no Hospital Jardim Helena, em São Miguel Paulista, com um
quadro grave de pneumonia. Os primeiros testes para verificar se estava
infectado com a Covid-19 deram negativo. O positivo veio no último, realizado
na segunda-feira (7), um dia antes de ele morrer.
Como um pai
A ideia de queimar as
máscaras surgiu em agosto, quando a igreja realizou festejos pelo Dia de São
Roque, padroeiro dos enfermos. Neste ano o tema foi “São Roque, protegei-nos
das pestes e pandemias”. Segundo José, o padre esperava pelo fim do
coronavírus, porque queria que seus fiéis voltassem à Paróquia sem medo.
Antes de partir, ele viu a
morte de outros três amigos da igreja, dois deles por causa do coronavírus, e
estava abalado. “Ele tinha que dar força para a comunidade. Por mais que alguns
ali não conseguissem entender o que estava acontecendo no mundo ultimamente,
ele tentava passar uma esperança. Falava: 'não desiste'. Até porque esse ano
nós tivemos mais três grandes perdas ali”.
José conhecia o padre
Francisco desde 2000. Diz que o pároco era como um pai e que na comunidade eles
convivam como uma família. A última vez que se viram foi como uma despedida,
lembra Santiago. O sacerdote agradeceu e o abençoou.
“Está difícil de engolir.
Eu perdi meu pai tem três anos e meio. Ele foi, fez a missa do meu pai. Ontem
eu senti como se estivesse perdendo meu pai novamente. Mesma sensação. Era uma
pessoa muito querida. Querendo ou não, foi uma vida que nós vivemos com ele”,
lamenta.
“No dia 1º de novembro ele
veio dar uma benção para mim e para minha esposa, porque a gente estava
completando 10 anos de casados. Parece que foi uma despedida dele ali. Ele
falou ‘vocês são muito abençoados, vocês sempre nos ajudaram aqui’”, relembra.
Com medo da pandemia,
Santiago e a esposa, que é enfermeira, diminuíram a frequência de visitas à
igreja. Mesmo assim, mantinham contato com o padre e faziam questão de
perguntar se ele estava bem.
Francisco era conhecido
pelas missas de cura e libertação, realizadas sempre às quintas-feiras, quando
recebia fiéis de diversas regiões.
Para José, ele também será
lembrado pela reforma que atuava. Era corajoso e persistiu para que a Paróquia
se tornasse maior e mais acolhedora. Ficou como ele queria.
“Foi o único padre que teve
coragem de construir aquela igreja gigante que está ali. Infelizmente ele não
conseguiu ver o trabalho completo, mas o legado ficou. O interior da igreja ficou
do jeito que ele queria”.
“São 20 anos de pároco
ali. Quando ele entrou, era a igrejinha antiga. Com o tempo ele foi ampliando a
igreja, na qual ficou aquela igreja grandona. Está em fase de acabamento. Ele
construiu, deixou tudo pronto. Pena que ele não viu a obra concluída”.
O religioso nasceu em
Serranos (MG), em 19 de outubro de 1967. Foi ordenado sacerdote na Diocese de
Mogi das Cruzes, em 1º de maio de 1998, pelas mãos de Dom Paulo Mascarenhas
Roxo.
Trabalhou como presbítero nas paróquias Nossa Senhora dos Remédios, no distrito de Remédios, em Salesópolis; Santa Cruz – Capela do Ribeirão, em Taiaçupeba, Mogi das Cruzes; Nossa Senhora da Paz, na Vila da Prata e, desde 2001, estava na Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, no distrito de Brás Cubas, em Mogi das Cruzes. Também, era o representante da Pastoral Presbiteral. (Fonte: G1)
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