Oliveira dos Brejinhos: Família relata negligência em caso de morte de gestante por covid-19; secretaria emite nota de esclarecimento
A morte da jovem gestante Maria Aparecida Saldanha Freitas, moradora do
povoado de Bom Sossego, município de Oliveira dos Brejinhos, deixou toda a
região em estado de choque. Ela foi mais uma vítima da Covid-19 e entrou na
triste lista dos mais de 474 mil brasileiros que perderam a batalha contra essa
doença.
O falecimento de Maria foi noticiado pelo BN (aqui) há poucos dias, e hoje voltamos ao caso motivado por uma
denúncia feita pelos familiares da vítima que acusam o Hospital Municipal de
Oliveira dos Brejinhos de negligência.
Em contato com o Brotas News, por meio de texto e áudio, o tio e os pais
de Maria Aparecida, senhores Lormínio Saldanha, Rosilene Pereira
Saldanha e Edilson Ferreira de Freitas, respectivamente, relataram todo o
desenrolar do caso e exclamaram sua revolta frente ao desfecho.
O texto em itálico e com aspas trata-se da fala transcrita dos denunciantes.
Segundo eles, Maria sentiu-se mal na segunda-feira, 31, em decorrência
de uma crise de falta de ar, procurando assim o hospital municipal.
"Minha filha passou mal na segunda, com falta de ar, e levamos
ela para Brejinhos. O Doutor Matheus a atendeu bem, fez os procedimentos, dando
soro para ela, e assim ficou internada até o dia seguinte, recebendo alta
médica."
Após a alta médica, na terça-feira, 01, o médico plantonista disse que o
problema da paciente era crise de ansiedade, e por isso poderia voltar para a
casa. Contudo, ao chegar em casa, Maria voltou a se sentir mal, e a família
levou-a novamente para o hospital.
"Chegando lá no hospital, quem
estava atendendo era doutor Gilvan, e quando consultou ela disse que achava
melhor levá-la para Barreiras, pois o hospital de Brejinhos não tinha suporte
para cuidar dela. Mas, em nenhum momento, eles deram encaminhamento para
transferir minha filha e nem sequer fizeram o teste para Covid"
Já na quarta-feira, 02, o médico plantonista, Dr. João Carlos,
diagnosticou o problema como crise de ansiedade, ministrando uma injeção para
este fim. Mesmo a paciente apresentando sintomas claros de Covid, o teste
seguia sem ser feito e tampouco a regulação ocorria.
"Na quarta, doutor João Carlos examinou ela e disse que ela
tinha crise de ansiedade, passou uma injeção para ela se acalmar. Novamente eu
pedi a eles para transferirem ela para Barreiras, e eles me disseram que não
poderia, pois precisava colocá-la na regulação. Depois que eles viram ela
piorando, em um estado de quase morte, daí o médico veio e colocou ela na
regulação, e em seguida fez o teste de Covid e deu positivo. Mas no
primeiro dia que ela chegou no hospital, já deveria ter feito o teste
nela, porque os sintomas eram claros. O teste só foi feito porque eu disse para
doutor João Carlos que ela estava com o nariz entupido."
A situação de Maria se agravava mais e mais, e na quinta-feira, 03, dona
Rosilene suplicava para que a transferência até o hospital de Barreiras saísse
logo, mas, segundo a própria Rosilene, o médico insistia na ideia de crise de
ansiedade.
"Eu já estava desesperada e insistia
com eles para levarem ela para Barreiras, mas só me diziam que era crise de
ansiedade, e minha filha sufocando, com crise do corona, e mesmo assim deixaram
minha filha morrer, por falta de cuidado lá no hospital."
Dona Rosilene relata que a regulação poderia ter saído com mais rapidez,
caso a administração do hospital de Brejinhos avisasse o Hospital de Barreiras
que Maria já fazia tratamento no Centro de Atendimento a Mulher (CAM), pois, em
tese, segundo consta, pacientes já cadastrados no centro conseguem regular com
mais agilidade.
"Eles deixaram minha filha morrer à míngua. Bastava passar para o doutor que ela era paciente do CAM, ele expedia um laudo e assim a regulação aconteceria. Mas eles preferiram deixar minha filha em Brejinhos, sem nenhuma estrutura, somente para não gastar com gasolina."
Maria faleceu ansiando por um banho, e nem isso lhe foi ofertado. A mãe,
com muita insistência, consegui-lhe uma toalha úmida para refrescar o corpo.
"Minha filha morrendo de calor, na
agonia da morte, suplicava para tomar banho, mas eles não deixaram. Consegui um
pano molhado para passar nela e foi assim que ela se refrescou. O que me dói
mais ainda é que nem banho deixaram minha filha tomar."
Maria faleceu na sexta-feira, 04. O depoimento dos pais termina com a
descrição do enterro da vítima, onde somente três pessoas quiseram acompanhar o
cortejo, por medo do vírus.
"Não achamos ninguém para
acompanhar, todo mundo correndo de medo. Batemos nas portas de casas para
comprar material e ninguém abria, desligavam a televisão para parecer que não
havia ninguém em casa. É muito dor."
Gil Allan Nunes de Araújo, marido da vítima, relata que a esposa morreu
em seus braços e que sofreu muito com falta de ar. Após o grito de Gil, o
médico que estava na sala ao lado, e ao ver Maria quase morrendo, saiu
correndo e pediu para o marido sair de lá, tentando reanimá-la, mas sem
sucesso.
"Ela morreu em meus braços. Eu vi a
agonia dela com falta de ar. Naquela hora eu gritei, o médico estava na sala do
lado e veio correndo e pediu para eu sair de lá. Ele tentou trazer ela de
volta, mas ela já tinha morrido.
Gil Allan ainda frisa que eles deveriam ter dado a ambulância para
transferirem sua esposa. A própria família colocaria gasolina, se fosse
preciso.
"Se eles dessem a ambulância, a
gente levava ela. A gente arcava com todas as despesas, mas isso tudo foi
imprudência deles. Se não fosse a negligência deles, tudo seria diferente.
Se ontem, quinta, tivesse levado ela para Barreiras, ela teria se
salvado. A imprudência do hospital foi grande e dos médicos também. (Fonte:
Portal Brotas News)
Veja nota da Secretaria Municipal de
Saúde:
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