Oeste da Bahia: Parque Vida Cerrado transfere primeiros lobos-guarás que integram projeto inédito de reintrodução e soltura
Subtitulo: Animais serão encaminhados para recinto de reabilitação, onde devem permanecer por, no mínimo, dez meses, antes de serem reintroduzidos ao habitat. Este é o segundo experimento desta natureza no País; o primeiro realizado em área rural
O Parque Vida Cerrado – primeiro e único centro de conservação da biodiversidade, pesquisa e educação socioambiental – realiza neste mês de julho, na próxima semana, a transferência dos primeiros lobos-guarás que integram o projeto inédito de reintrodução e soltura em vida livre no Cerrado do Oeste baiano. Os animais serão transferidos para um recinto de reabilitação, construído em área de propriedade rural parceira do projeto, dando início à fase de pré-soltura.
A propriedade agrícola escolhida para abrigar o recinto é referência na adoção de diversas práticas sustentáveis, como preservação de reservas legais e APPs, formação de palhada, plantio direto, participação ativa em projetos de sequestro de carbono, utilização de energia renovável e crescente utilização de bioinsumos. O resultado desse cuidado de longos anos permitiu construir um ambiente saudável para a fauna e um bom relacionamento entre lavoura e áreas nativas, credenciando a propriedade a integrar o projeto inédito de reintrodução e soltura de lobos-guarás em vida livre na região.
A área na qual o recinto foi construído possui um total de 2.875 m² e dispõe de árvores e arbustos com frutas da região que estão entre as preferidas dos lobos-guarás, bem como paisagem característica com a presença de presas naturais, como pequenos mamíferos, aves, lagartos e anfíbios. Os animais serão mantidos neste recinto de reabilitação por, no mínimo, dez meses e, durante este período, receberão alimentação artificial diária e oferta de água. Neste espaço, espera-se observar a evolução comportamental, com o aprendizado e aprimoramento das técnicas de captura. A soltura ocorrerá gradativamente, com o recinto de adaptação servindo de referência para alimentação e abrigo, até que os pesquisadores percebam a total independência e sucesso adaptativo da soltura, através de monitoramento com colares de GPS e transmissores de satélites.
Expectativa
A transferência é esperada com grande expectativa pelo produtor rural, Celito Missio, porta-voz das empresas Sementes Oilema, Irmãos Gatto Agro e Condomínio Agrícola Santa Carmem - patrocinadoras oficiais do projeto, que abrigam a área do recinto de reabilitação. “Temos como missão buscar sempre parcerias sustentáveis e manter o respeito ao meio ambiente, por isso estamos honrados pela oportunidade de apoiar a iniciativa. O trabalho desenvolvido pelo Parque Vida Cerrado é de suma importância e todos os nossos esforços serão empreendidos para que a sua equipe possa desempenhar o trabalho, para que os filhotes tenham a melhor adaptação e a reintrodução à vida livre seja um sucesso marcante para a espécie. Não se trata de apoiar um projeto, mas um ecossistema”, destaca.
Desafio
Conforme explica a bióloga e coordenadora do Parque Vida Cerrado, Gabrielle Bes da Rosa, a reintrodução e soltura de filhotes órfãos de lobo-guará é uma realidade no Brasil e, também, um desafio, gerando grande expectativa. “Sem o desenvolvimento de protocolos desde o recebimento até o estabelecimento das plenas capacidades de caça e sobrevivência, a única destinação segura para os animais são instituições mantenedoras de fauna sob cuidados humanos (criadouros ou zoológicos), em caráter permanente. Nosso desafio é reabilitar, ensinar aquilo que aprenderiam com os pais, para serem reinseridos ao habitat. A reabilitação e a falta de informação disponível são grandes desafios. Pouco se sabe sobre projetos nacionais de reintrodução bem-sucedidos envolvendo estes carnívoros, devido à demanda de tempo de pesquisa e alto custo envolvido”, evidencia.
Evento marcante
A experiência realizada no Oeste baiano, que se apresenta como um desafio, também se configura como um evento marcante e sem precedentes na história da conservação da espécie do lobo-guará no Brasil. Isso porque os resultados gerados poderão ser aplicados futuramente em todas as regiões de ocorrência da espécie. “A elaboração desses protocolos é urgente porque faz parte de uma linha de ação que não beneficiará um único animal e, sim, uma espécie inteira símbolo do Cerrado e maior canídeo das américas que, inclusive, está ameaçada de extinção em nossa região. A ação é de extrema importância para o manejo e conservação da espécie”, completa Rosa.
Entenda
O projeto teve início ainda no segundo semestre do ano passado. Na oportunidade, o Parque Vida Cerrado foi escolhido, após tratativas entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), para receber três filhotes órfãos de lobos-guarás (Caliandra, Seriguela e Baru) e conduzir o desenvolvimento de um protocolo para reabilitação e posterior soltura, evitando-se a manutenção desses em instituições de fauna sob cuidados humanos (criadouros ou zoológicos), em caráter permanente. Por isso, desde o recebimento dos filhotes, o Parque vem adotando uma série de protocolos, que envolveram ações para remanejamento de espaço e preparação de recinto temporário em suas instalações, aquisição de equipamentos de monitoramento, fornecimento de alimentação e manutenção em ambiente adequado e com total isolamento, evitando-se a resposta positiva dos animais à presença humana. Esta será a segunda experiência desta natureza realizada no País e a primeira em área agrícola. O projeto conta com o apoio da Galvani Fertilizantes, Sementes Oilema, Irmãos Gatto Agro e Condomínio Agrícola Santa Carmem e parceria do Instituto Pró-Carnívoros com transferência em expertise, ICMBio/CENAP, UNB e Inema. (Fonte: H.Steffens Steffens. Assessoria de imprensa Parque Vida Cerrado)
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