Anvisa rejeita CoronaVac em crianças e adolescentes e pede mais dados
Os
diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negaram
unanimemente o pedido do Instituto Butantan para incluir crianças e adolescentes
(de 3 a 17 anos) entre as pessoas que podem receber a CoronaVac no Brasil.
Na
mesma reunião da diretoria colegiada realizada nesta quarta-feira (18), os
técnicos também revisaram e mantiveram a autorização de uso emergencial do
imunizante para os adultos, que já tinha sido aprovado em 17 de janeiro.
Entretanto, os diretores cobraram o envio de dados recentes sobre o desempenho
da vacina, conforme previsto no processo.
A
CoronaVac atualmente está em uso para crianças acima de 3 anos na China. A
decisão foi baseada em estudos de fase 1 e 2 que indicam que imunizante é
seguro. Os resultados foram publicados em junho na revista The Lancet. Os
pesquisadores dizem que uma forte resposta imunológica foi verificada em 96%
dos participantes.
No
Brasil, atualmente a vacina da Pfizer é a única aprovada para maiores de 12
anos. Além disso, o laboratório Janssen recebeu autorização para condução de estudo
com menores de 18 no país.
Relatora
nega pedido e indica dose de reforço
A
diretora Meiruze Freitas, da Segunda Diretoria da Anvisa, foi a relatora do
processo e resumiu seu voto em quatro pontos:
Recomendou
que não seja aprovada a ampliação de uso da CoronaVac para as crianças e
solicitou que sejam providenciados estudos de fase 3 (mais abrangente e
específicos para avaliar a eficácia)
Foi
favorável à manter a autorização para uso emergencial da CoronaVac para adultos
considerando que não houve mudança no benefício/risco do uso da vacina, que
ajudou a conter a pandemia no Brasil.
Votou
por determinar que o Butantan apresente dados complementares de
imunogenicidade, conforme cronograma a ser estabelecido, e
Recomendou
ao Ministério da Saúde que "considere a possibilidade de indicação de uma
dose de reforço em caráter experimental para quem recebeu duas doses de
CoronaVac, especialmente imunossuprimidos, idosos e em especial os idosos acima
de 80 anos".
Gerência
de medicamentos cobra dados
O
gerente Gustavo Mendes, responsável pela Gerência Geral de Medicamentos e
Produtos Biológicos (GGMED) da Anvisa, explicou que os dois estudos
apresentados pelo Butantan são preliminares (fase 1 e 2) e que faltam dados
sobre a eficácia, a duração da proteção da vacina e também qual a proteção para
crianças com comorbidades ou imunossuprimidas.
"O
que concluímos é que os dados apresentados até o momento são insuficientes para
estabelecer o perfil de segurança na população pediátrica. Portanto, a relação
de benefício-risco é desfavorável para o uso da vacina nessa população" -
Gustavo Mendes, gerente da GGMED
Na
mesma reunião, Mendes também apresentou outro relatório, desta vez sobre a
manutenção do autorização de uso emergencial da vacina para adultos. O parecer
foi favorável: "o perfil benefício-risco se mantém favorável, mas as
incertezas persistem", definiu Mendes.
O
gerente da GGMED alertou que o Instituto Butantan ainda não entregou diversos
dados aguardados, entre eles estão as informações completas sobre
imunogenicidade (capacidade da estimular o sistema imunológico a produzir
anticorpos) ou os que mostram o acompanhamento da população vacinada, entre outros.
O
gerente afirmou que não recebeu dados sobre o estudo de Serrana e que as
informações ausentes somadas têm impacto até mesmo no planejamento sobre a necessidade
de uma terceira dose.
"O
que discutimos internamente é que as lacunas sobre imunogenicidade e do
acompanhamento dos vacinados no estudo limitam conclusões sobre a duração da
proteção e, por consequência, a necessidade de doses de reforço da vacina. No
momento não há dados regulatórios que indicam se e quando existe a necessidade
de dose de reforço para nenhuma vacina", explicou Gustavo Mendes.
Butantan
diz estar em diálogo com Anvisa
Em
nota, o Butantan disse que está em diálogo com a Anvisa. "Os dados do
estudo de imunogenicidade da CoronaVac ainda não foram entregues na sua
totalidade à Anvisa por conta de divergências no método de análise",
informou o instituto.
E
complementou: "Cabe ressaltar que em relação ao estudo de fase III da
vacina, o artigo foi disponibilizado na plataforma de preprint Lancet e aguarda
a revisão dos pares para a publicação em revista".. (G1)
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